A vassoura metálica riscava contemporizada. Uma, duas, cem, mil vezes o braço mecanicamente tornava. Em desordem, folhas esvoaçadas eram ventiladas por entre os dedos de lata, em giros e piruetas, rumo ao amontoado um pouco à frente.
Era a vez do vento. O vento contragolpeava, também as fazia girar de volta, pirracento, repatriava-as aos antigos lugares, desarrumando-as em nova desordem.
O homem retrucava: buscava-as de novo, re-riscava o chão, cercava-as novamente, dava-lhes nova vassourada; elas giravam, piruetavam e seguiam ao amontoado, a contragosto. Algumas folhas desertavam, perdidas na terra de ninguém.
Com essas mínimas vitórias do vento, logo restou sobranceiro o homem. O chão ficou todo limpo, riscado apenas com as unhas metálicas da vassoura e pisado mansamente pelo sol.
O vento prostrou-se. Entre bocejos do meio-dia, adormeceu, ignorando o homem.
O homem olhou seu trabalho e descansou com o chapéu na mão.
Pouco depois, irascível, o vento acordou e, inconformado, esquivando-se da logística daquela luta ao rés do chão, galgou até a copa dos eucaliptos, sacudiu forte e despejou fartamente outras folhas ocres.
O varredor olhou-as a cacarejarem, dionisíacas, infestando o chão do outono.
O homem olhou seu trabalho e viu que era inútil. Deu as costas, foi almoçar.
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