Roda, roda viva

Livro de J. Alves
O que é ter uma história de vida?O que é fazer uma história? Trata-se de privilégio das celebridades, dos artistas e das estrelas e astros do cinema e da televisão? E os que não têm vez nem voz e vivem no anonimato seus dramas existenciais?

Roda, roda viva é um tributo aos anônimos, aos sem-histórias, aos que não dispuseram de um lápiz para transcrever suas histórias, aos que não tiveram os seus cinco minutos de fama nas fogueiras das vaidades.

Roda, roda viva foi o vencedor do segundo lugar na categoria de romance no concurso literário promovido pelo Instituto Nacional do Livro.  O romance conta a história de uma menina que perde a mãe aos sete anos de idade, e tem que assumir o cuidado dos irmãos mais novos. Perambula de fazenda em fazenda, seguindo o pai, um homem trabalhador, mas rude e severo.  Ela tem um grande desejo que é ver o Sapucaí de perto, o rio-mar  de seus sonhos. O Sapucaí é o rio mágico, onipresente, que corre às vezes sereno e às vezes agitado pelos veios largos ou estreitos de suas fantasias.

[...] Mas veja minha mãe. Ela pensava era no Sapucaí. Era lá que sua alma existia e o seu sambaqui floria. Era lá que fazia descer até o chão e aprisionar uma poça d´´agua todos os raios de sol. Pois desde o amanhecer até o fim do dia o sol refletia ali no profundo das águas do Sapucaí como se fosse a luz de sua íris. E mamãe sempre me dizia: "Filha, o Sapucaí é rio grande, de águas profundas... Quem olha para ele se acalma no seu semblante, ou fica com os olhos rasos de lágrimas também... [...]

Vive entre o mundo frio da realidade  de uma vida difícil e necessitada e o mundo das ilusões.Já no início do livro, ela própria assem se define:

"Estes meus olhos são como brasas acesas de um fogo antigo, clareando um passado por baixo de cinzas ainda quentes. Guardo no rosto  o novo e o velho estampados juntos. E tudo como se fosse ontem, quando o dia começava a clarear: eu ouvindo o estrondo de tiros que ecoavam do lado de lá do ribeirão Rio Claro, bem no oco do mato" (Roda, roda viva, p. 5).

 
A personagem é chamada apenas de "Maria", como tantas "marias" anônimas e esquecidas, que nascem e morrem feito estrelas cadentes, de trajetórias tão efêmeras que por ninguém são notadas na sua saga de dor, sofrimento e desventura. Entretanto, maior que tudo é a sua "ilusão", alguma coisa incapaz de ser compreendida  por quem "não bebesse na mesma caneca e comesse na mesma cuia": (p. 12). Se você perguntasse a uma destas "Marias" qual o segredo de seu árduo caminhar, ela lhe perguntaria:
 
"Se sinto que estou vivendo e respirando junto com tudo isso; se tudo existe em mim numa transfusão de muito sangue, iludo-me desiludindo meus desvarios? Iludo-me desiludindo o deserto e abrindo nele um poço para matar minha sede e tornar a viver? Iludo-me desiludindo as palavras para dar nome a este canto de minha alma? São as ilusões que fazem nascer as canções!" (p. 12)

Roda, roda viva é uma história em que se misturam bem e mal, Deus e o Coisa-ruim, a benção e a maldição, o "espaço selvagem" e o "espaço organizado", liberdade e escravidão.  Entre o ser e o não ser a si mesmo. Entre a subserviência ao outro (espaço organizado)  e maldição interior; entre a insubmissão ao outroa (espaço selvagem) e a obediência a si mesmo (espaço selvagem):
 
"Um vento quente começou a varrer a poeira do terreiro. E o Coisa-Ruim no meio do fuso do redemoinho, girando na ponta do rabo. Então pulei na frente gritando, desgrenhando e arrancando os cabelos, rasgando meus vesidos e ficando nua no meio do redemoinho: 
- Este mundo é do /demo! Este mundo é do Demo! Eu gritava, chorava e gargalhava ao mesmo tempo!" (p. 98).

Embora Roda, roda viva seja um esgotado, continua um texto vivo e denso, cujos personagens permanecem vivos, guardando em segredo histórias comoventes que jamais serão contadas em livros. Nascem e morrem com eles, como o Sol em seu glamour nasce e morre no horizonte, esquecido dos homens  que preferem fortes holofotes e espelhos reflexos.




Se você se interessar pela leitura deste livro, solicite-nos. Oportunamente disponibilizaremos  neste site sua versão e-book.
 














 
Ano de publcação:
1885
Editora:
Paulinas
Disponibilidade:
Esgotado
Número de páginas:
264
Categoria:
Romance
Comentários (0)>>Clique aqui para comentar
Seja o primeiro a comentar.

últimos textos

Leia os textos de J. Alves

    Não foi possível realizar a conexão com o servidor do banco de dados